Não
sei o que aconteceu com minha primavera... Eu sinto algo que em mim não casa
com as formas coloridas dos dias frescos e perfumados... Por que não tomei caso
dessa mudança a tempo de findar-lhe o avanço? Ando a estranhar essa inexatidão
de mim mesmo. Não que nos conheçamos por completo ou que sejamos lineares ao
sabor dessa consciência própria. Mas é que todo mundo que pisa em brasa grita
ao menos um "ai"! E eu não fiz uso de nenhuma interjeição nesse tempo
todo... Então busco aquele céu de outrora, ah, aquele céu, hum! Quão imponente
e dono de si reinava nas retinas tão fatigadas de minha face... Mas, para onde
foram as estrelas? Alguém, por favor, o endereço das Nebulosas... Quero ir ter
com elas... Alguém?
Estou
provocado e não sei a quê. Uma música, por favor! Quero uma música que toque
meu coração, não estou afim de mover-me daqui, se é que me entende. E vejam só
que ocasião propícia ao diálogo, ao diálogo! E com as letras... Não! A poesia,
que é essa alma repousada no corpo mudo, me pediu divórcio. E eu ainda preciso
de um diálogo. Urgente, um diálogo! Acompanhado, por favor, com troca de
olhares, cheiro e, por, gentileza, não esqueça do molho de lágrimas da sincera
comunhão... Eu preciso ser ouvido...
Ah,
amor, onde te escondes? Queria convencer-te a devolver-me a poesia. E tu
acharias tão lindo o gesto meu de colher nos olhos teus as flores de minha
primavera. Talvez até me chamarias de Coração. E não poderia te devolver maior
apreço. Ah meu pulmãozinho lindo! Meu pulmão! És, amor, meu respirar!
Preciso
dar acesso ao meu íntimo. Isso tem me sufocado... Estou confuso, largado às
dúvidas, preciso logo de uma traqueostomia e não posso chamar o SAMU. Droga,
tenho mesmo é que terminar de lavar essa roupa, afinal, hoje é Domingo! E vejo
que me seria mais útil lavar também as roupas que vestem minha alma... Mas... O sabão acabou... E a poesia não voltou!
Wallisson
Sudaro (06/10/13)
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